Carta aberta `a população da Baixada Santista
Estamos inciando aqui na Baixada Santista um debate sobre a reação estatal e capitalista que esta sendo dirigida contra as conquistas dos povos indígenas e demais comunidades tradicionais, obtidas desde a Constituição de 1988. O que se percebe atualmente é que após um breve período que vai de 1988 (a partir de quando se torna politicamente correta a questão do meio ambiente, dos índios e das comunidades tradicionais) em que as populações tradicionais e a preservação ambiental ganharam considerável espaço na agenda nacional, com a demarcação de terras indígenas e de quilombolas e o avanço da legislação ambientalista, neste início de século XXI assistimos a um grave retrocesso nessas políticas públicas. A votação do novo e devastador Código Florestal na Câmara este ano, a corrupção que envolve o IBAMA, os ataques sistemáticos às reservas indígenas, por exemplo, dentro do Parque Nacional do Xingú, ou os ataques de fazendeiros à população Kaiowaa literalmente morrendo à beira da estrada em Dourados no Mato Grosso do Sul, a destruição da FUNAI que vem sendo denunciada pelo acampamento dos povos indígenas em Brasília, o avanço dramático do desmatamento sobre as últimas áreas remanescentes de cerrado e a invasao de madeireiras e pecuaristas dentro da Amazônia, a política energética do governo federal para quem “não serão alguns bagrezinhos e indiozinhos que irão impedir o pogreso (sic) da nação”, são somente o início de uma retomada do crescimento capitalista a qualquer preço, exterminando as últimas áreas comuns da natureza e as populações que se negam a entrar como novos favelados dentro do sistema. Aqui na Baixada Santista isto também está ocorrendo com a expansão portuária (Embraport, Barnabé-Bagres, Alemoa, Largo Santa Rita, retro-porto em Guarujá), e industrial (expansão do pólo em Cubatão), destruindo as últimas áreas de manguezais e restinga existentes, e com o avanço da especulação imobiliária sobre as últimas praias ainda preservadas (vejam o caso de Itaguaré em Bertioga) ante a prostracao dos orgaos fiscalizadores do IBAMA e da CETESB. Também a população indígena local, os Guaranis, tanto na aldeia Rio Branco em Itanhaém (ameaçada pela mineração) como no aldeamento de Paranapua, no Xixova-Japuí (com risco de retirada) sofrem com essa jurassica reação conservadora e troglodita contra o direito à vida (humana e a natureza como um todo), aprofundando a politica de exterminio de uma tipo de modernidade caduco e ultrapassado. Tudo isto pautado numa forma de desenvolvimento que é insustentável, pois continua baseando-se exclusivamente no crescimento econômico sem se preocupar com a manutencao nem a qualidade da vida.